DEMOCRACIA E TOTALITARISMO NA IGREJA PRIMITIVA

DEMOCRACIA E TOTALITARISMO NA IGREJA PRIMITIVA A igreja primitiva viveu a tensão entre totalitarismo e democracia. Desde o começo esta tensão estava presente. Quando se lê Atos dos Apóstolos com este "filtro", pode se achar que a decisão apostólica de criar o diaconato era para manter e melhorar o poder apostólico. Se a princípio este episódio parece uma decisão democrática, logo se descobrirá o contrário. Quando decidiram que não era "certo que nós deveríamos negligenciar a palavra de Deus para servir às mesas", eles estavam dando uma estrutura hierárquica: todo o mundo pode servir às mesas, mas só os apóstolos podem ensinar a palavra de Deus. Diferente seria a história da igreja se esta decisão provesse uma seleção para escolher quem seria apóstolo e quem seria diácono. Os que estão no poder têm dificuldades em entregá-lo. Os apóstolos tiveram uma fonte inerente de poder: eles conheceram a Jesus Cristo pessoalmente, falaram com Ele, caminharam com Ele, viram os milagres que fez e, especialmente, ouviram as palavras e ensinos. Este conhecimento lhes deu poder para serem apóstolos e permanecer como tais. Mas o modo para preservar esta posição era repetir os mesmos conceitos reiteradamente: as mesmas frases, as mesmas ideias que eles ouviram de Jesus. Isto deu uma característica conservadora à igreja. Nesta fase do desenvolvimento da igreja, a autoridade apostólica era a chave da verdade, compreendida como fidelidade aos ensinos apostólicos. Quando enfrentou o problema do desaparecimento físico do colégio apostólico, os bispos e pastores se tornaram seus sucessores, não só no sentido histórico, mas também como legítimos portadores da tradição apostólica. A substituição por sucessão, desde o princípio, deu ao primeiro bispo a autoridade que os apóstolos tinham por que deles haviam ouvido a verdade que agora transmitiam, fazendo-o com fidelidade e integridade. O processo de repetição das verdades ouvidas foi assim se solidificando, pois o poder dos bispos estava na sua fidelidade em não acrescentar nada de novo ao que haviam ouvido. Cipriano, nas suas cartas disse que “a Igreja é fundada nos bispos, e todo ato da igreja é governado por estes líderes". Assim, o bispo passa a decidir o que pertence à igreja e a defender a pura tradição contra as heresias. A unidade dos bispos é a unidade da igreja. De certo modo, entendiam sua missão como a de preservar a pura tradição apostólica e os ensinos, e as igrejas passaram a olhar para as igrejas onde os apóstolos ministraram como se fossem "igrejas-mãe" (como Esmirna, Éfeso, Jerusalém, Corinto, Filipos, Tessalônica e Roma). O argumento para isso era que nas “igrejas-mãe" a pureza da tradição apostólica tinha sido mantida em sua integridade. Esta é a razão porque a igreja de Roma assume o estado de igreja-mãe, porque se acreditava que Pedro e Paulo tinham ministrado ali. Entende-se assim como a igreja romana pôde juntar o poder espiritual com o poder político. Roma era o centro político do império e a igreja estava crescendo nesta cidade, a tal ponto que Constantino reconheceu o Cristianismo como religião oficial. Desde então, o mundo divino começava a determinar ações políticas no mundo terrestre. Esta não era a única conseqüência deste "matrimônio". O bispo romano, agora com o título de Papa, tinha o título de Bispo Universal e Vigário de Cristo, assumindo assim um poder acima de todos os demais governos. A Igreja ficou mais poderosa, mas o poder era totalitário. Influenciado pelo Império romano e sua estrutura política, a igreja copiou isto e começou a agir no mesmo modelo. Construíram uma igreja imperial, com um Imperador: o Papa. Podiam reunir céu e terra porque o Papa estava ao mesmo tempo como Vigário de Cristo e Rei terreno. Marcos Inhauser

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