DISSONÂNCIA

DISSONÂNCIA A Igreja dos séculos XV e XVI estava desacreditada, era causadora de terror e exploração. Pregava a vida eterna via obediência às regras da Igreja que eram desobedecidas pelos seus mais visíveis líderes, tanto bispos como papas. A moralidade pregada era como pomada: uso externo. Servia para o povo, mas não para o clero. Sabe-se com sobejas evidências da frequência com que clérigos frequentavam os prostíbulos na cidade de Roma e outras grandes cidades. Historiadores têm mostrado como mulheres prostitutas foram incentivadas a acompanhar os Cruzados, prestando seus serviços aos valentes e cristãos guerreiros. De um lado a Igreja condenava oficialmente a prostituição como mal moral, por outro tolerava e às vezes até se beneficiava do comércio. Membros do clero, incluindo bispos e abades, possuíam bordéis ou cobravam impostos e dízimos de prostitutas. No campo econômico, A igreja era virulenta ao condenar a usura e a cobrança de ágio. Pedia aos comerciantes que se contentassem com o mínimo que lhe recompensasse o trabalho. Ocorre que, “isso é o que ela dizia. O que dizia e o que fazia, porém, eram duas coisas totalmente diferentes. Embora os bispos e reis combatessem e fizessem leis contra os juros, estavam entre os primeiros a violar tais leis. Eles mesmos tomavam empréstimos, ou os faziam, a juros … quando combatiam outros usurários! Os judeus, que geralmente concediam pequenos empréstimos a juros enormes … eram odiados e perseguidos, desprezados em toda parte como usurários. Os banqueiros italianos emprestavam dinheiro … fazendo negócios enormes - e … quando seus juros não eram pagos, o próprio Papa ia cobrá-los, ameaçando com um castigo espiritual! Mas a despeito do fato de ser um dos maiores pecadores, a Igreja continuava a gritar contra os usurários” (HUBBERMAN, Leo. História da Riqueza do Homem, ZAHAR EDITORES, 1981, pg 45, versão ebook). Esta dicotomia entre pregação e prática, entre pregação moral e imoralidade, estava no cerne do descontentamento crescente que se notava entre o povo. “Enquanto os nobres dividiam suas propriedades … a Igreja adquiria mais e mais terras … A Igreja também aumentou seus domínios através do "dízimo", taxa de 10% sobre a renda de todos os fiéis. O dízimo constituía um imposto territorial, um imposto de renda e um imposto de transmissão muito mais oneroso do que qualquer taxa conhecida nos tempos modernos. Agricultores e camponeses eram obrigados a entregar não apenas um décimo exato de toda sua produção... Cobravam-se dízimos de lã até mesmo da penugem dos gansos; à própria relva aparada ao longo da estrada pagava-se o direito de portagem; o colono que deduzia as despesas de trabalho antes de lançar o dízimo a suas colheitas era condenado ao inferno.” (Idem, pg 16) Esta dissonância entre o pregado e o praticado pela igreja gerava alto grau de rejeição e busca por mudanças. Marcos Inhauser

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