INQUISIÇÃO

INQUISIÇÃO O casamento do poder (império) com a teologia (via Concílios Ecumênicos) teve o condão de estabelecer a verdade, porque ela é a versão do poder. A dos perdedores é a sub-versão. Estabelecida a verdade sobre Cristo e suas naturezas, os que divergiam foram hostilizados, perseguidos, retirados de seus cargos e muita disputa, mentiras e tramas foram feitas contra os subversivos. Como a verdade era “imperial” e o bispo de Roma, com o declínio do império, assumiu as prerrogativas do imperador com o título de papa, este começou a lutar contra os hereges (os que não replicavam as verdades oficiais). Mais que pureza doutrinária, buscava-se ampliar o poderio da igreja e seus papas, cada vez mais dependentes dos ingressos eclesiásticos para manter a pompa e a luxúria do clero e da igreja. Daí nasce a Inquisição (séculos XII e XIX), na Europa e na América Latina. O objetivo era identificar e punir hereges e apóstatas, considerados ameaça à Igreja Católica e seu domínio. Ela buscou identificar e punir hereges como os cátaros e os valdenses, perpetrada por bispos locais e seus funcionários. Tinha natureza informal. No século XIV, o Papa João XXII estabeleceu a Inquisição Papal, formal e centralizada e responsável de investigar e punir hereges, apóstatas e outros considerados ameaça à Igreja. Realizada principalmente na Itália, Espanha e Portugal, era conhecida por seu uso de tortura e execução como punição para os culpados de heresia. No século 16, surgiu a Inquisição Espanhola, com o objetivo de identificar e punir judeus e muçulmanos que haviam se convertido ao cristianismo, mas suspeitos de praticar secretamente sua antiga religião. A Inquisição espanhola foi brutal e estima-se que tenha matado mais de 2.000 pessoas entre os anos de 1478 e 1834. No século XVII, a Inquisição Romana foi estabelecida com o objetivo de identificar e punir cientistas, filósofos e outros intelectuais é conhecida pela perseguição a Galileu Galilei e outras figuras proeminentes da revolução científica. Entre seus métodos estavam os informantes (indivíduos com rancor pessoal ou vingança contra o acusado); a tortura, amplamente utilizada para extrair confissões e incluíam o afogamento simulado, entre outros métodos; penitência pública: eram obrigados à penitência pública, como desfilar pelas ruas usando chapéu pontudo e carregando uma placa identificando seu crime; prisão: mantidos em condições desumanas e muitos morreram como resultado de sua prisão; execução: muitas vezes realizadas em público com o objetivo dissuadir outras pessoas. Todo este esquema só foi possível porque havia uma “verdade oficial”, estabelecida por Concílios formados por bispos com estreitas relações com o poder. Esta relação da verdade com o poder foi trabalhada por muitos filósofos como Platão, Aristóteles, Maquiavel, Thomas Hobbes, Rousseau e mais contemporaneamente, Michel Foucault. Aceitou-se que a “ortodoxia” é a verdade dos poderosos. O fundamentalismo é a verdade bíblica segundo a versão de modernos imperialistas (especialmente os estadunidenses), que têm a veleidade de estabelecer a única interpretação possível para um determinado texto ou narrativa bíblica. As redes sociais se tornaram na agência inquisitorial, com a difamação e o cancelamento dos dissidentes e, ao mesmo tempo, dando voz à ressonância dos que replicam ilimitadamente as imbecilidades fundamentais. Percebe-se que a Inquisição nunca acabou. Mudou a arena onde se dá, dos interrogatórios em salas fechadas para a praça pública das mídias sociais. Nestes novos tempos de elogio à imbecilidade teológica, assassina-se reputações e “papas gospel” sobem a rampa dos palácios para fortalecer as “suas verdades”, frutos de suas Maracutaias. Marcos Inhauser

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