O INFERNO PURGATORIAL

O INFERNO PURGATORIAL A invenção do purgatório como o estacionamento das almas após a morte até o evento do juízo final é algo que tem implicações que devem ser analisadas. A primeira delas é que, em meio a uma sociedade injusta e mística como foi a da Idade Média na Europa, quando a igreja perdia credibilidade, o purgatório trouxe a responsabilização individual pela própria salvação. Em meio às injustiças, promiscuidade e corrupção vigentes em todas as esferas da vida, responsabilizar os indivíduos a uma vida ética era algo alvissareiro. Quem não procedesse corretamente seria condenado. A segunda é que esta invenção está baseada na teologia da justiça retributiva, onde atos humanos são recompensados com favores e benção ou castigos. A graça passa longe. Vai para o céu direto quem foi perfeito. Como ninguém o é, todos vão para o purgatório, onde ficarão mais ou menos tempo em função da categorização dos pecados. Aqui entra o terceiro elemento: os pecados são hierarquizados entre veniais e mortais, entre pecadinhos e pecadões. A quarta é que, além da pessoa ser responsável em viver bem para ter um purgatório leve, ela também é responsável pelos que já morreram e deve fazer com que o sofrimento delas no purgatório seja abreviado, através de missas rezadas em intenção das suas almas. Com isto se cria um vínculo de medo e terror que leva o “fiel” a ser bom “cristão” (o que significa maiormente em ir às missas regularmente) e ainda rezar e fazer rezar pelos entes queridos que já morreram. Ainda que haja posicionamento papal afirmando que a missa deve ser gratuita, há a prática generalizada que se deve ofertar para igreja. Há a celebração da missa de sétimo dia, para que a pessoa morta seja recebida nos céus. No que pese isto, ninguém tem a certeza de que, apesar da missa, ela escapou do purgatório. É a indefinição eterna. O dilema humano é duplo: fazer com que a pessoa seja salva e ainda ter que fazer para que os antepassados também sejam. O paralelo atual é a doutrina que prega o “cair da graça”, que a pessoa será salva dependendo de onde esteja ou o que esteja fazendo na hora da morte (se estiver na balada, vai para o inferno, ainda que seja “crente”), se estava atuante na igreja ou afastado etc. Marcos Inhauser

Comentarios

Entradas más populares de este blog

OS ESCRITOS DE LUTERO

DIMENSIÓN POLÍTICA DEL SACERDOCIO UNIVERSAL

CARACTERÍSTICAS DE LA EXCOMUNIÓN