O RASTRO DE PÓLVORA
O RASTRO DE PÓLVORA
A Reforma se espalhou pela Europa como se fosse um rastro de pólvora. Por medidas de precaução, Lutero esteve recluso no castelo de Frederico, o Sábio, durante 10 meses. Ele deixou a barba e os cabelos crescerem e era chamado de Cavaleiro Jorge. Foi quando conseguiu trabalhar na tradução do Novo Testamento para o alemão. Esta tradução foi publicada em 1532. Com a ajuda de Melanchton e outros amigos, a Bíblia toda foi traduzida. Ela se tornou tão importante ao ponto de unificar os vários dialetos alemães, que resultou o alemão moderno.
Outro fato foi o casamento de Lutero, com Catarina von Bora, filha de família nobre e ex-freira, que aderiu à Reforma, juntamente com outras colegas de clausura que fugiram do convento. Lutero se referia à Catarina como “minha costela”. Catarina e Lutero tiveram seis filhos, dos quais alguns faleceram na infância e adotaram outros filhos. Este fato serviu para incentivar o casamento de padres e freiras que tinham adotado os ideais reformados.
Martinho Lutero faleceu aos 62 anos de idade (1546). Só em 1555, o Imperador reconheceu que havia duas diferentes confissões na Alemanha: a Católica e a Luterana.
Alguns dos pontos mais importantes defendidos por Lutero foram:
1. Nem o papa nem o padre tem poder para remover os castigos de um pecador.
2. A culpa pelo pecado não pode ser anulada por meio de indulgências.
3. Somente um autêntico arrependimento pode resolver a questão da culpa e do castigo, o que depende única e exclusivamente de Cristo.
4. Só há um mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo.
5. Não há autoridade especial no papa.
6. As decisões dos Concílios não são infalíveis.
7. A Bíblia é a única autoridade de fé e prática para o cristão.
8. A justificação é somente pela fé.
9. A soberania de Deus é superior ao livre-arbítrio humano.
10. Defendeu a doutrina da consubstanciação em detrimento da transubstanciação.
11. Há apenas dois sacramentos: o batismo e a ceia do Senhor.
12. Opunha-se à veneração dos santos, ao uso de imagens nas Igrejas, às doutrinas da missa e das penitências e ao uso de relíquias.
13. Era contrário ao celibato clerical.
14. Defendia a separação entre igreja e estado.
15. Ensinava a total depravação da natureza humana.
16. Defendia o batismo infantil e a comunhão fechada.
17. Defendia a educação dos fiéis em escolas paroquianas.
18. Repudiava a hierarquia eclesiástica.
A defesa que fazia da separação da Igreja e do Estado era relativa. Ele sobreviveu graças ao rei Frederico, o Sábio, que o escondeu por dez meses. Apelou às autoridades em algumas instâncias para que não fosse excomungado. Nos seus escritos, ele asseverou várias vezes o poder das autoridades seculares em promover reformas e a responsabilidade que tinham em manter a igreja segundo as Escrituras. Em certa medida, para ele, a pureza da igreja dependia das autoridades seculares (ver os escritos dedicados à nobreza cristã alemã), uma vez que o papado estava corrompido.
Veja este trecho de Lutero: “Os romanistas … desenharam três paredes em torno de si, com as quais … se protegeram, para que ninguém pudesse reformá-los ... Em primeiro lugar, se pressionados … eles afirmaram e sustentaram que o poder secular não tem jurisdição sobre eles, mas, ao contrário, que o poder espiritual está acima do secular. Em segundo lugar, se admoestados com as Escrituras, eles objetaram que ninguém pode interpretar as Escrituras, mas só Papa. Em terceiro lugar, se forem ameaçados por um Concílio, eles fingem que ninguém pode convocar, só o Papa. . . . Além disso, eles não podem mostrar nada nas Escrituras dando ao Papa o poder exclusivo de chamar Concílios; eles não têm nada além de suas próprias leis; mas estas são válidas apenas enquanto não forem prejudiciais ao cristianismo e às leis de Deus. . . . Portanto, quando a necessidade exige, e o Papa é causa de ofensa à cristandade, quem melhor pode convocar, como membro fiel do corpo inteiro, deve fazer o que puder para obter um verdadeiro Concílio. Isso ninguém pode fazer tão bem quanto as autoridades seculares, especialmente porque são companheiros cristãos, co-sacerdotes, compartilhando um só espírito e um poder em todas as coisas, e desde que eles devem exercer o ofício que receberam de Deus sem impedimento, sempre que for necessário e útil deve ser exercido” (Martin Luther, Address To The Nobility of the German Nation (1520), tradução editada).
Era um pedido para que o Estado interferisse na vida da Igreja! Era a pólvora teológica chegando aos palácios!
Marcos Inhauser
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