CALVINO CONTRA OS ANABATISTAS
CALVINO CONTRA OS ANABATISTAS
A oposição de Calvino aos anabatistas estava enraizada em sua compreensão da natureza da igreja, do papel do estado e a interpretação adequada das Escrituras. Calvino acreditava que as posições dos anabatistas sobre essas questões não eram apenas incorretas, mas também perigosas e poderiam levar a distúrbios sociais e políticos.
Um dos desacordos era a natureza da igreja. Calvino acreditava que ela era uma instituição visível estabelecida por Cristo, com estrutura e autoridade definidas. Ele via a igreja como o meio pelo qual Deus comunicava sua graça e verdade ao mundo. Há nesta visão calvinista uma institucionalização do organismo igreja, que se pode ser igreja se houver hierarquia, regras, clérigos e regras bem estabelecidas e obedecidas. Eles rejeitavam a ideia de uma igreja visível e viam a igreja como uma entidade puramente espiritual composta por crentes que haviam sido batizados quando adultos. Eles rejeitaram a ideia do batismo infantil e acreditavam que somente aqueles que tivessem feito uma decisão consciente de seguir a Cristo poderiam ser membros da igreja.
Para Calvino a visão dos anabatistas sobre a igreja não era apenas antibíblica, mas também levava à desunião e confusão, pois acreditava que a igreja precisava de uma estrutura e autoridade definidas para manter a ordem e promover o evangelho. Ele via os sacramentos, incluindo o batismo, como parte essencial do ministério da igreja e argumentava que deveriam ser administrados tanto a adultos quanto a crianças.
Calvino e os anabatistas também não concordavam sobre o papel do estado. Ele acreditava que o estado tinha a responsabilidade dada por Deus de manter a ordem e promover a justiça, era instrumento da providência de Deus e os cristãos devem obedecer às autoridades civis, desde que não obrigue a violar a lei de Deus. Os anabatistas rejeitavam o estado cristão e afirmavam que os cristãos não devem fazer parte do governo secular, pois é uma instituição corrupta e devem se separar dele.
O reformador argumentava que a visão anabatista sobre o estado era irrealista e perigosa, pois os cristãos têm a responsabilidade de participar dos assuntos do mundo e trabalhar para o bem comum e o Estado era necessário para proteger e manter a ordem na sociedade. A Igreja e o Estado devem trabalhar juntos, cada um respeitando a esfera própria de autoridade.
A terceira área de desacordo entre Calvino e os anabatistas era a interpretação das Escrituras. Calvino acreditava na autoridade das Escrituras e as via como a autoridade final em questões de fé e prática e as Escrituras deveriam ser interpretadas usando princípios sólidos de exegese e guiada pela tradição da igreja. Os anabatistas rejeitavam a ideia e acreditavam que a Bíblia deveria ser interpretada literalmente, pois acreditavam que o Espírito Santo guia os crentes em sua compreensão das Escrituras. Para eles a tradição da igreja era corrupta e não confiável.
No meu entender, Calvino mantinha resquícios da ideia do magistério eclesiástico, onde só uma elite tinha capacidade para entender e interpretar as Escrituras. O povo devia ser submisso às interpretações “autorizadas”. Era a manutenção de estrutura de poder eclesial na interpretação das Escrituras. Para Calvino e Lutero (que seguia mais ou menos nos mesmos passos) aceitar que a comunidade interpretasse as Escrituras em um processo comunitário, ode há a participação de todos os dons na busca de consenso, isto é heresia pura. Parece-me que a postura de Calvino restringe a ação dos Espírito Santo na iluminação para o entendimento das Escrituras só a alguns academicamente qualificados.
Quando as Escrituras são interpretadas não por um só dom (mestre, pastor, ou ensino), mas pela variedade de dons presentes na comunidade reunida, pelo intercâmbio das vivências e entendimentos, tem-se uma riqueza muito maior que a feita por uma única pessoa.
Não concordo com Calvino, a Igreja Católica e outros que defendem a exigência de atributos especiais para se ler e entender as Escrituras.
Marcos Inhauser
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