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Mostrando las entradas de enero, 2023

A ANGÚSTIA LUTERANA

A ANGÚSTIA LUTERANA Martinho Lutero nasceu em Eisleben (Alemanha, dia 10 de novembro de 1483). Estudou latim em Magdeburg (1497) e Eisenach(1498-1501); ingressou na Universidade de Erfurt, obtendo o grau de bacharel em artes (1502) e de mestre em artes (1505). Seu pai sonhava ter um filho advogado. Lutero iniciou os estudos em Direito, mas os interrompeu para entrar no claustro dos eremitas agostinianos em Erfurt. O fato gerador é estranho e controverso. Alguns historiadores dizem que foi um susto em meio a uma tempestade e que o companheiro foi atingido e ele, por pouco, escapou. Conta-se que caiu e apavorado gritou: "Ajuda-me Santa Ana! Eu serei um monge!". Preocupado com a salvação decidiu tornar-se monge, contrariando a família. Foi consagrado padre em 1507. Lutero galgou postos na Igreja Romana e estava envolvido com aspectos intelectuais e com conflitos internos quanto à salvação pessoal. Suas vidas monástica e intelectual não forneciam resposta às suas aflitivas e a...

UM SER EM BUSCA

UM SER EM BUSCA Lutero, para mim, era um monge católico atormentado com perguntas que fazia e para as quais a religião não lhe dava respostas satisfatórias. Vivendo em uma época de ouro, quando muitos gênios estavam andando pelas ruas de Florença, Milão, Roma (Da Vinci, Michelângelo, Erasmo, Thomas More, entre outros), influenciado pelas ideias humanistas e renascentistas, mal conseguia dormir com suas perguntas atormentantes. Um dia, “um raio” caiu na sua cabeça e ele teve a iluminação da “justificação pela fé”, saiu proclamando, botou as 95 teses na porta da Catedral e virou celebridade. Nada mais ingênuo e ingênuo fui por muito tempo. Era mais fácil acreditar no lampejo que lhe deu a formulação central de suas ideias que pesquisar, estudar e ler muita coisa para entender o processo da construção do pensamento de Lutero. Não me considero um entendido em Lutero e sua teologia. Estudei um bocado sobre a Reforma e mal entendo o que aconteceu e o que ela representou na história da huma...

UMA REFORMA EM GESTAÇÃO

UMA REFORMA EM GESTAÇÃO Há quem acredite, ingenuamente, que a Reforma do século XVI surgiu como passe de mágica e que começou com Lutero. Equivoca-se. É essencial saber o que e quem veio antes para que a Reforma pudesse ser o que foi. Um deles foi João Wicliffe (1330 a 1384). Em 1372, recebeu seu Doutorado em Divindade em Oxford; em 1375, escreveu "O Domínio Divino" e em 1376 "Domínio Civil" onde declarou que somos "inquilinos" de Deus e que todo poder e domínio pertencem a Ele, que o deu a alguns homens, tanto justos quanto injustos. No entanto, ele disse que o poder civil ou eclesiástico não deve pertencer aos injustos. Em seus ensinamentos, disse que o clero em pecado deveria perder seus direitos e propriedades. Isso enfureceu Roma, que emitiu várias bulas papais para silenciar seus ensinamentos. Em resposta, Wicliffe aprofundou sua crítica à organização e aos ensinamentos da Igreja Romana. Seus principais ensinamentos foram: a.) Rejeitou os dogmas do ...

DISSONÂNCIA

DISSONÂNCIA A Igreja dos séculos XV e XVI estava desacreditada, era causadora de terror e exploração. Pregava a vida eterna via obediência às regras da Igreja que eram desobedecidas pelos seus mais visíveis líderes, tanto bispos como papas. A moralidade pregada era como pomada: uso externo. Servia para o povo, mas não para o clero. Sabe-se com sobejas evidências da frequência com que clérigos frequentavam os prostíbulos na cidade de Roma e outras grandes cidades. Historiadores têm mostrado como mulheres prostitutas foram incentivadas a acompanhar os Cruzados, prestando seus serviços aos valentes e cristãos guerreiros. De um lado a Igreja condenava oficialmente a prostituição como mal moral, por outro tolerava e às vezes até se beneficiava do comércio. Membros do clero, incluindo bispos e abades, possuíam bordéis ou cobravam impostos e dízimos de prostitutas. No campo econômico, A igreja era virulenta ao condenar a usura e a cobrança de ágio. Pedia aos comerciantes que se contentasse...

A RELIGIÃO DO MÉRITO NÃO É PARA AMADORES

A RELIGIÃO DO MÉRITO NÃO É PARA AMADORES Nascida a criança, deve ser batizada para receber o nome, a cidadania e a salvação. O nome era conferido “na pia batismal”, a cidadania vem com o nome e os registros eclesiásticos dos batismos feitos e a salvação pela graça comunicada pelo sacramento. Durante a vida, a pessoa religiosa deve pautar a agenda do comportamento individual, obedecendo os cânones. As regras morais, abundantes diga-se, são características de todas as religiões que colocam o mérito como trunfo salvífico. Dependendo da religião, os nomes podem variar: santificação, sublimação, ascese, kharma, consagração, dedicação, fidelidade etc. Comportando-se segundo as normas religiosas, a pessoa estará com menor risco de ser mandada para o purgatório ou inferno. Como nunca ninguém tem a certeza de que está sendo boa o suficiente, o castigo paira sobre a cabeça da pessoa fiel à religião, como espada de Dâmocles. Não bastasse a hercúlea tarefa de se salvar, a pessoa fiel ainda deve s...

O TERROR DA EXCOMUNHÃO

O TERROR DA EXCOMUNHÃO A excomunhão está baseada em uma controversa interpretação de Mateus 16:16-19: “Disse-lhe Jesus: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelou, mas meu Pai, que está nos céus. Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela; dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares, pois, na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus”. Convém salientar que os manuscritos Codex Vaticanus, Sinaiticus e Bobiensis não trazem a passagem, o que levantou dúvidas sobre a autenticidade da fala descrita como tendo sido pronunciada por Jesus. Dois dos defensores de que o texto é adição posterior são F.C. Baur, fundador da Escola de Crítica Bíblica de Tübingen, e Para Baur, o texto foi adicionado para dar mais poder aos bispos, em função das disputas internas que a igreja primitiva passava. Há quem afirme que se trata ...

A TEOLOGIA DAS INDULGÊNCIAS

A TEOLOGIA DAS INDULGÊNCIAS Você passa a vida sonhando, trabalhando, economizando e investindo para ter o suficiente para a compra de uma casa confortável e ampla. O preço dela é R$ X,00. No final da vida, você percebe que não conseguiu o suficiente e que o que tem é R$ X,00-Y,00. Você fica na fila de espera (purgatório) esperando que os amigos e familiares completem o que está faltando (missas por intenção das almas). Usando a mesma metáfora, imagine que você conseguiu R$ X,00 + Z,00. Esse “a mais” não precisa para comprar a casa. Esse crédito fica na agência controladora (fundo dos superávits) e, a critério do gerente, ele pode pegar deste depósito de créditos e transferir para a sua conta, de tal forma que “complete” o valor total. Este crédito formado pelos valores excedentes é o conceito por trás das indulgências e que se chama “tesouro de méritos”. Traduzindo: para que uma pessoa “vá para o céu” é necessário que, em vida, faça a quantidade de méritos (céu = boas obras - pecados...

CARACTERÍSTICAS DA EXCOMUNHÃO

CARACTERÍSTICAS DA EXCOMUNHÃO A excomunhão era uma prática usada pela Igreja Católica Romana para disciplinar os membros que violavam os ensinamentos e as leis da Igreja. Essa prática prevaleceu desde os primeiros dias da Igreja e foi usada para separar os indivíduos da comunhão dos fiéis. A pessoa excomungada não tinha acesso aos sacramentos, incluindo a Eucaristia, e era evitada pelo resto da comunidade. A prática da excomunhão na Igreja Católica Romana atingiu seu auge na Idade Média e era frequentemente usada como ferramenta política para controlar o comportamento de indivíduos e comunidades inteiras. A Igreja tinha o poder de excomungar monarcas e políticos, o que efetivamente significava que eles não eram mais reconhecidos pela Igreja como líderes legítimos. A excomunhão também foi usada como meio de punição para vários crimes e ofensas, incluindo heresia, apostasia, blasfêmia e imoralidade. A Igreja considerava esses crimes particularmente perigosos para o bem-estar espiritual ...

INDULGÊNCIAS COMO FONTE DE RENDA

INDULGÊNCIAS COMO FONTE DE RENDA As Cruzadas custaram caro e quebraram as finanças da Igreja Católica, tanto em vidas perdidas como em dinheiro gasto. A Igreja investiu uma quantidade enorme de sua riqueza e muitos nobres e mercadores europeus também financiaram as expedições armas, navios e alimentos. Como forma de alavancar os ingressos, durante os séculos XV e XVI, a Igreja Católica Romana se envolveu na venda de indulgências, prática que permitia reduzir a quantidade de tempo que as almas passariam no purgatório após a morte. Amplamente criticada, a venda contribuiu significativamente para a Reforma Protestante. A venda começou como uma forma de a Igreja Católica arrecadar fundos para diversos projetos, como a construção da Basílica de São Pedro, em Roma. A Igreja pregava que as indulgências podiam ser concedidas pelo papa ou por um bispo e que perdoariam os pecados da pessoa que as comprava. Johann Tetzel (1465-1519) foi um frade e pregador dominicano vendedor de indulgências na...

O INFERNO PURGATORIAL

O INFERNO PURGATORIAL A invenção do purgatório como o estacionamento das almas após a morte até o evento do juízo final é algo que tem implicações que devem ser analisadas. A primeira delas é que, em meio a uma sociedade injusta e mística como foi a da Idade Média na Europa, quando a igreja perdia credibilidade, o purgatório trouxe a responsabilização individual pela própria salvação. Em meio às injustiças, promiscuidade e corrupção vigentes em todas as esferas da vida, responsabilizar os indivíduos a uma vida ética era algo alvissareiro. Quem não procedesse corretamente seria condenado. A segunda é que esta invenção está baseada na teologia da justiça retributiva, onde atos humanos são recompensados com favores e benção ou castigos. A graça passa longe. Vai para o céu direto quem foi perfeito. Como ninguém o é, todos vão para o purgatório, onde ficarão mais ou menos tempo em função da categorização dos pecados. Aqui entra o terceiro elemento: os pecados são hierarquizados entre venia...

A INVENÇÃO DO PURGATÓRIO

A INVENÇÃO DO PURGATÓRIO O medo é a força motriz por trás das grandes invenções. Foi o medo do inimigo que levou à invenção da pólvora, o medo do inferno deu asas à criação do purgatório, que diferentemente de outros inventos produzidos por uma pessoa, a do purgatório foi uma invenção coletiva. Houve quem afirmou o “nascimento do purgatório” (LE GOFF, J. La Nascita del Purgatório. Turim, Einaudi, 182 in MASI, Domenico de Masi. Criatividade e Grupos Criativos, SP, Sextante, 2002, pg 194). A sepultura e o culto da esperança de uma vida além-túmulo têm evidências com mais de 90.000 anos. Com o tempo se articulou um monte de teses e histórias sobre a vida no além, onde paraísos e infernos foram aparecendo gradualmente, com profundezas e abismos, cada qual mais complexos e sutis (ASLAN, Reza, no seu livro Deus - Uma história humana. Rio de Janeiro, Zahar, 2018, traz informações interessantes dos desenvolvimentos das ideias religiosas). Milhares de anos foram necessários para se chegar à co...

AS CONTRIBUIÇÕES DO SÉCULO XVI

AS CONTRIBUIÇÕES DO SÉCULO XVI Foi uma época marcada pelo medo e pela esperança, que teve invenções numerosas e imponentes, muito mais do que comumente se imagina. Chiara Frugoni enumera alguns: os óculos, o papel, a filigrana, o livro, a imprensa com caracteres móveis, a universidade, os algarismos indo-arábicos, o zero, a data de nascimento de Cristo, bancos, tabeliães e casas de penhores, a árvore genealógica, o nome das notas musicais, a escala musical. A Idade Média nos doa ainda os botões, as roupas íntimas e as calças compridas; os baralhos de vários tipos, o jogo de xadrez e o tarô, o carnaval; a anestesia, trouxe o gato para dentro de casa, o vidro para as janelas, a lareira; nos fez sentar à mesa (os romanos comiam deitados) e passássemos a comer com o garfo, e trouxe o macarrão, aprendeu a usar a força motriz da água ativando a espremedura do óleo e as serralherias, batedores para os panos, moinhos de papel e de farinha. Descobriu uma extraordinária força motriz: cavalo, d...

O RENASCIMENTO

O RENASCIMENTO A Reforma foi o maior conflito eclesiástico dos séculos XV e XVI. Isso aconteceu com as contribuições do nominalismo: a separação de ideias entre Igreja e Estado; dissociação da educação religiosa; a forma de entender o mundo secular; o significado da justificação pela fé; intervenção divina; o começo da salvação; a capacidade do homem de intervir sem um mediador para seus pecados. Como o cristianismo havia se unido ao poder imperial e em apoio à proposta política do império (casamento Igreja/Estado no período de Constantino), divergir era questionar a tradição e a unidade conquistadas durante séculos, através de muitas lutas, mártires e acordos. A base da igreja medieval era o aristotelismo cristianizado de Tomás de Aquino, e quem se opusesse ao sistema tomista de verdades estava sujeito à excomunhão, confisco de bens, exílio e até pena de morte Inquisição era o método). A Inquisição atingiu seu auge em 1232 com Frederico II. O Papa Gregório IX, preocupado com as ambiç...

ADUBOS PARA A REFORMA

ADUBOS PARA A REFORMA Um dos grandes eventos que fomentaram as condições para a Reforma foi a invenção de Gutenberg, que nasceu em Monguncie (1398) e inventou o sistema de impressão com caracteres móveis e fornecia a impressão de textos em grande escala. Em 1456, o grupo com o qual ele estava envolvido, imprimiu uma cópia da Vulgata, a versão latina da Bíblia. Porque era uma língua não falada pelo povo, pouco impacto produziu. A grande inovação de Gutenberg foi imprimir Bíblias na língua do povo, tal como o alemão, dando acesso geral ao texto bíblico. Outro que ajudou foi Savonarola. Ele nasceu em Ferrara e viveu de 1452 a 1498. Quando jovem, resistiu aos ensinamentos humanistas e renascentistas. Ele se tornou monge dominicano. Em 1490 mudou-se para Florença, onde a família Medici governava e era o epicentro da cultura renascentista. Em Florença, Savonarola denunciou em suas pregações os pecados da cidade, a corrupção e a ganância dos governantes que se diziam cristãos. Savonarola atr...

SÉCULOS DE GESTAÇÃO

SÉCULOS DE GESTAÇÃO A decadência da Igreja Medieval, com a venda de bispados (simonia), cobrança exacerbada de impostos, interferência na vida política dos reinos e feudos, agravada pelos desmandos e corrupção de papas gananciosos, produziu um generalizado sentimento de mudança. Começaram a surgir pensadores e líderes que traziam o sonho de novos tempos e uma nova forma de se entender as relações sociais e humanas. Foi neste terreno que surgiu o humanismo, corrente filosófica e ética que enfatizava o valor dos seres humanos e propunha que eles fossem os agentes das mudanças. Recorde-se que tudo era decidido pela igreja e pelo Estado, até a filiação religiosa! É verdade que o termo Humanismo só foi criado no século XIX. O Humanismo focava o indivíduo, pois acreditava que cada pessoa tem o potencial de realizar e impactar positivamente a sociedade. Essa ênfase se refletiu na educação, pois criam que, por meio dela, as pessoas poderiam desenvolver suas mentes e habilidades, levando vidas...

A IGREJA DOS BÓRGIA

A IGREJA DOS BÓRGIA A família Bórgia foi uma das famílias mais infames e poderosas a atuar na Igreja Católica. A ascensão ao poder começou com o Papa Calixto III (1455) e Rodrigo Bórgia, que se tornou o Papa Alexandre VI. Durante seu mandato, Alexandre VI é conhecido por sua corrupção, nepotismo e comportamento escandaloso. Ele foi pai de vários filhos ilegítimos (César e Lucrécia entre outros) e usou sua posição para ganhar riqueza e poder para si e sua família. Ele travou guerras para expandir o território da família. César, filho do Papa Alexandre VI, era líder militar implacável, brutal e ambicioso. Ele foi nomeado comandante dos exércitos papais e usou sua posição para conquistar cidades e expandir seu território. Também era conhecido por suas táticas, incluindo o uso de veneno e assassinatos para eliminar os inimigos. A filha, Lucrécia Borgia, é conhecida por sua beleza e inteligência e como foi usada por seu pai e irmão para obter alianças políticas por meio de casamentos estrat...

AS LIÇÕES DA IGREJA MEDIEVAL

AS LIÇÕES DA IGREJA MEDIEVAL Além da acentuada queda de credibilidade papal fruto dos escândalos e luta pelo poder, além Inquisição que possibilitou a hegemonia de uma classe dona da verdade e que não aceitava o menor argumento fora das quatro linhas da verdade oficial, não se pode deixar de pensar e analisar as Cruzadas. Elas foram guerras religiosas entre cristãos e muçulmanos nos séculos XI e XII. Apesar de serem na sua maioria e motivação destinadas a recuperar a Terra Santa do domínio muçulmano, o termo "Cruzadas" é também aplicado a outras guerras da Igreja para combater o paganismo, heresia e resolver conflitos entre rivais. O alto custo das empreitadas, a oferta de garantia da salvação aos combatentes (também garantida aos peregrinos a Jerusalém), os conflitos internos entre os comandantes, os papas corrompidos pelo poder, o contato com novas culturas e pensamentos (a cultura muçulmana), os revezes sofridos, a necessidade de nova economia, redundaram em novo cenário...

A IGREJA NO FINAL DA IDADE MÉDIA

A IGREJA NO FINAL DA IDADE MÉDIA Os séculos XIV e XV foram tumultuados para a Igreja, com muitos conflitos políticos/religiosos e lutas internas por poder. Cisma do Ocidente (1378 a 1417), quando dois papas rivais, Clemente VII (da família Bórgia) e Urbano VI, foram eleitos por diferentes facções dentro da Igreja dividiu a Igreja em facções rivais. Cada um dos papas afirmava ser o chefe legítimo da Igreja. O cisma foi resolvido em 1417, no Concílio de Constança, elegendo o Martinho V como único papa. No entanto, esta crise teve efeitos duradouros, enfraquecendo o papado e com a crescente desconfiança da Igreja entre o povo. Surgiu neste tempo um movimento que defendia a autoridade dos concílios sobre a do papa. Impulsionado pela crença de que a Igreja era corrupta e que um conselho de bispos deveria ser a autoridade máxima na Igreja, o Movimento Conciliar passou a ser grande desafio à autoridade papal. A Igreja lutava com questões como corrupção e nepotismo. Muitos papas nessa época e...

INQUISIÇÃO

INQUISIÇÃO O casamento do poder (império) com a teologia (via Concílios Ecumênicos) teve o condão de estabelecer a verdade, porque ela é a versão do poder. A dos perdedores é a sub-versão. Estabelecida a verdade sobre Cristo e suas naturezas, os que divergiam foram hostilizados, perseguidos, retirados de seus cargos e muita disputa, mentiras e tramas foram feitas contra os subversivos. Como a verdade era “imperial” e o bispo de Roma, com o declínio do império, assumiu as prerrogativas do imperador com o título de papa, este começou a lutar contra os hereges (os que não replicavam as verdades oficiais). Mais que pureza doutrinária, buscava-se ampliar o poderio da igreja e seus papas, cada vez mais dependentes dos ingressos eclesiásticos para manter a pompa e a luxúria do clero e da igreja. Daí nasce a Inquisição (séculos XII e XIX), na Europa e na América Latina. O objetivo era identificar e punir hereges e apóstatas, considerados ameaça à Igreja Católica e seu domínio. Ela buscou ide...

A DIVISÃO DAS IGREJAS ORIENTAL E OCIDENTAL

A DIVISÃO DAS IGREJAS ORIENTAL E OCIDENTAL O Grande Cisma entre as igrejas orientais e ocidentais ocorreu em 1054 DC e marcou a divisão formal entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa Oriental. As raízes do cisma remontam ao século IV dC, quando o cristianismo se tornou a religião oficial do Império Romano sob Constantino e o Império estava dividido entre Oriente, com capital em Constantinopla, e Ocidente, com capital em Roma. Isto permitiu acentuadas diferenças culturais e políticas entre os lados. À medida que o cristianismo se espalhou, as duas metades experimentaram diferenças teológicas e culturais. A Igreja Oriental, conhecida como Bizantina, colocou forte ênfase no uso de ícones e ritos litúrgicos, enquanto a Ocidental, conhecida como Latina, colocou ênfase na autoridade do Papa. Além disso, houve disputas sobre o uso de pães ázimos na Eucaristia e a adição da cláusula Filioque no Credo Niceno, que afirmava que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho. Ela foi acrescentada...

CONSTANTINO(PLA)

CONSTANTINO(PLA) O imperador Constantino era um político com raro senso de oportunismo e megalomaníaco. Percebeu que a igreja crescia apesar da perseguição imposta e preferiu se juntar a ela. Como disse um historiador (que já não me lembro em qual livro li), a o cristianismo em setenta anos foi acusado de botar fogo em Roma, com mais setenta anos estava esparramada pelo império, com trezentos tinha o símbolo nos escudos dos soldados e acabou legitimada. Constantino, na sua megalomania, decidiu criar uma capital do Império e construiu Constantinopla (330), hoje conhecida como Istambul. As motivações políticas eram múltiplas e incluíam o desejo de solidificar o poder do Império (era um ponto mais central), uma nova capital para servir de centro do cristianismo, ter um centro estratégico militar e comercial e perpetuar sua história. Construída no Estreito de Bósforo, que liga o Mar Negro ao Mar de Mármara e ao Mediterrâneo, em pouco tempo se tornou o local ideal para negócios e comércio....

CRUZADAS

CRUZADAS As Cruzadas foram guerras religiosas entre cristãos e muçulmanos nos séculos XI e XII. Apesar de serem, na sua maioria e motivação destinadas a recuperar a Terra Santa do domínio muçulmano, o termo "Cruzadas" é também aplicado a outras guerras da Igreja para combater o paganismo, heresia e resolver conflitos entre rivais. A Primeira Cruzada (1096) começou com o Papa Urbano II que convocou uma ação militar para ajudar o Império Bizantino e libertar Jerusalém do domínio muçulmano. A convocação foi atendida por milhares de guerreiros, cavaleiros, camponeses e famílias inteiras. Ficou conhecida como a "cruzada dos camponeses". Esta Cruzada estava mal equipada e treinada. Uma segunda com guerreiros mais experientes, teve mais sucesso. Capturaram a cidade de Antioquia (1098) e Jerusalém (1099). A tomada de Jerusalém foi vitória, mas desencadeou conflitos sangrentos entre cristãos e muçulmanos. Liderados por Saladino, reconquistaram Jerusalém (1187), que mais vol...

A TEOLOGIA DISRUPTIVA

A TEOLOGIA DISRUPTIVA O Concílio de Éfeso (431) debateu sobre "Theotokos" ou "Mãe de Deus". Convocado para abordar questões sobre a natureza de Jesus Cristo, a maioria apoiou o uso do termo "Theotokos" e foi oficialmente reconhecido como título apropriado para Maria. Confirmou assim o Concílio Nicéia (325 DC), que afirmou que Jesus é "uma pessoa em duas naturezas", Deus e humana, e que Maria é a mãe de Jesus, que é totalmente Deus e totalmente humano. No entanto, a disputa sobre o termo "Theotokos", ou "Mãe de Deus", é uma questão significativa na história da teologia cristã. Em seu cerne, a disputa gira em torno da natureza de Jesus Cristo e seu relacionamento com Deus Pai. De um lado da disputa estavam aqueles que argumentavam que o termo "Theotokos" é um título apropriado para Maria, a mãe de Jesus. Eles argumentavam que, como Jesus é totalmente Deus e totalmente humano, é apropriado referir-se a Maria como a ...

OS QUATRO CONCÍLIOS ECUMÊNICOS

OS QUATRO CONCÍLIOS ECUMÊNICOS Nicéia (325), Constantinopla (381), Éfeso (431) e Calcedônia (451) foram os quatro primeiros Concílios da Igreja Cristã. Eles se chamam “ecumênicos” porque (ainda que a palavra dê alergia aos ignorantes da história da igreja), em consonância com a palavra grega que dá origem, foram concílios que trouxeram religiosos (bispos) de todas as partes. Outro fato também desconhecido da maioria dos "líderes" de igrejas modernas, as decisões destes quatro concílios são as que balizam as avaliações de “igrejas” que querem ser cristãs. Jesus Cristo é totalmente divino, Jesus é totalmente humano, as duas naturezas coexistem em Jesus sem que uma se sobressaia sobre a outra (unio hipostática). Daí porque os que negam a divindade de Jesus ou sua humanidade não são considerados cristãos. Estes concílios foram convocados pelos imperadores: Nicéia pelo imperador Constantino, Constantinopla pelo imperador Teodósio I, Éfeso pelo imperador Teodósio II e Calcedônia p...

O BATISMO INFANTIL E CONSTANTINO

O BATISMO INFANTIL E CONSTANTINO Há muitos estudos e teologias sobre a prática do batismo infantil. É óbvio que há os que concordam e os que a negam. Entre os que a aceitam e praticam há quem afirme que, sem o batismo, a criança está fadada ao limbo (local onde ficam as crianças que morreram sem ser batizadas) e os que afirmam que batizar é pecado praticado pelos pais, ao impor sobre os filhos uma decisão que eles devem tomar quando tiverem consciência da importância do ato. Entre os que fundamentam bíblica e teologicamente, vão ao AT, afirmando que o batismo é o substituto neotestamentário da circuncisão, feita no oitavo dia. Para fundamentar ainda mais esta assertiva, mostram que a Páscoa foi assumida pela Ceia, e que, em ambos eventos veterotestamentários, as crianças participavam. Os que trazem argumentos históricos, afirmam que o batismo de prosélitos (que introduziu a prática, via João Batista, no período neotestamentário), também era realizado com crianças. Os que negam, trazem...

A CONTROVÉRSIA CHAMADA CONSTANTINO

A CONTROVÉRSIA CHAMADA CONSTANTINO É celebrado por gente que o vê como o salvador da igreja que, perseguida pelo império, poderia acabar com a morte dos seus líderes mais destacados. Outros, o veem como o imperador que oficializou o cristianismo como religião e deu entrada à política e às tramas no seio da igreja, deturpando-a, especialmente pela hierarquização do clero. Não existe palavra final sobre Constantino, porque há névoas históricas, lapsos de dados e leituras ideologizadas, tanto pelos que defendem, como pelos que atacam. A promulgação do Édito de Milão no dia 13 de junho de 313, concedeu tolerância e liberdade de culto para os cristãos. Depois de tantas perseguições, martírios e exílios, podiam ter relativa paz. No entanto, este decreto trouxe consigo uma série de efeitos colaterais. A igreja, que deveria ser una, enfrentava problemas com ideias e doutrinas que esgarçavam a comunhão. O aparecimento do docetismo, adocionismo, gnosticismo (para citar os mais conhecidos) eram...

A CONTROVÉRSIA CHAMADA CONSTANTINO

A CONTROVÉRSIA CHAMADA CONSTANTINO É celebrado por gente que o vê como o salvador da igreja que, perseguida pelo império, poderia acabar com a morte dos seus líderes mais destacados. Outros, o veem como o imperador que oficializou o cristianismo como religião e deu entrada à política e às tramas no seio da igreja, deturpando-a, especialmente pela hierarquização do clero. Não existe palavra final sobre Constantino, porque há névoas históricas, lapsos de dados e leituras ideologizadas, tanto pelos que defendem, como pelos que atacam. A promulgação do Édito de Milão no dia 13 de junho de 313, concedeu tolerância e liberdade de culto para os cristãos. Depois de tantas perseguições, martírios e exílios, podiam ter relativa paz. No entanto, este decreto trouxe consigo uma série de efeitos colaterais. A igreja, que deveria ser una, enfrentava problemas com ideias e doutrinas que esgarçavam a comunhão. O aparecimento do docetismo, adocionismo, gnosticismo (para citar os mais conhecidos) eram...

DEMOCRACIA E TOTALITARISMO NA IGREJA PRIMITIVA

DEMOCRACIA E TOTALITARISMO NA IGREJA PRIMITIVA A igreja primitiva viveu a tensão entre totalitarismo e democracia. Desde o começo esta tensão estava presente. Quando se lê Atos dos Apóstolos com este "filtro", pode se achar que a decisão apostólica de criar o diaconato era para manter e melhorar o poder apostólico. Se a princípio este episódio parece uma decisão democrática, logo se descobrirá o contrário. Quando decidiram que não era "certo que nós deveríamos negligenciar a palavra de Deus para servir às mesas", eles estavam dando uma estrutura hierárquica: todo o mundo pode servir às mesas, mas só os apóstolos podem ensinar a palavra de Deus. Diferente seria a história da igreja se esta decisão provesse uma seleção para escolher quem seria apóstolo e quem seria diácono. Os que estão no poder têm dificuldades em entregá-lo. Os apóstolos tiveram uma fonte inerente de poder: eles conheceram a Jesus Cristo pessoalmente, falaram com Ele, caminharam com Ele, viram os mi...

A IGREJA ESTATAL

A IGREJA ESTATAL Constantino, imperador, governou de 306 a 337 DC. Conhecido por seu papel na conversão do Império Romano ao cristianismo, teve em 312 dC, uma visão e viu uma cruz no céu e ouviu "Por este sinal, você vencerá". Ele interpretou isso como sinal de Deus e mandou pintar a cruz nos escudos de seus soldados. No dia seguinte, venceu uma batalha decisiva contra seu rival, Maxêncio e atribuiu sua vitória ao Deus cristão. Constantino começou a favorecer o cristianismo e tomou medidas para apoiar a Igreja. Emitiu o Édito de Milão em 313 DC e concedeu tolerância legal aos cristãos. Também convocou o Primeiro Concílio Ecumênico de Nicéia em 325 DC, reunião de bispos cristãos de todo o império, que resultou no Credo Niceno. Sua conversão ao cristianismo e seu apoio à Igreja impactaram o desenvolvimento do cristianismo e a difusão da religião pelo Império. No entanto, este casamento divide opiniões. Há os que afirmam que a igreja, pelo apoio imperial, pôde se propagar pelo ...

A PROGRESSÃO DAS REFLEXÕES NA IGREJA

A PROGRESSÃO DAS REFLEXÕES NA IGREJA Desde o começo a igreja enfrentou dois problemas: teológico e político. O primeiro é o resultado de filósofos gregos que influenciaram os teólogos. A mente grega divide o mundo em duas esferas: divina e terrestre. Para Platão, a primeira é o reinado dos absolutos, o reinado das ideias, e o segundo é o reinado da realidade. Estas duas esferas não se tocam. A realidade nunca alcança a perfeição porque este é um atributo do mundo divino. Este tipo de dualismo produziu as primeiras heresias que a Igreja Cristã enfrentou. O gnosticismo é uma delas. As coisas divinas são perfeitas, as terrestres são más. O mundo visível não foi feito por Deus porque Ele é inerentemente perfeito e não pode ter feito este mundo que é imperfeito. Jesus Cristo não pôde ser divino e humano ao mesmo tempo. Ou ele era um homem adotado por Deus como filho (adocionismo) ou Ele era totalmente divino e tinha só aparência física (docetismo). Os quatro primeiros Concílios Ecumênicos d...

A TEOCRACIA POSSÍVEL

A TEOCRACIA POSSÍVEL Se nem o antigo Israel, nem Jesus validaram o modelo teocrático de governo, ele é possível? Sim, é! Ele o é quando o indivíduo decide que sua vida será pautada pelos valores do Reino de Deus. É uma teocracia pessoal, onde Deus governa a vida individual. Esta decisão de viver a teocracia, no entanto, não pode ser individualista, do sujeito isolado. Ela deve ser tomada e vivida na comunhão com outros que decidem a mesma coisa. É a autocracia vivida na dimensão do corpo de Cristo, em comunhão com os demais. O fato de querer viver a teocracia na vida não dá a ninguém o direito de impor sua decisão sobre outras pessoas. Suas convicções podem e devem ser compartilhadas, não para promover discórdia e divisões, mas para que, na troca de entendimentos, se enriqueça aos demais e a si mesmo. Nesta dimensão não se usa a expressão “você está errado”, mas “penso diferente de você”. As teocracias individual e comunitária (quando um grupo decide viver segundo os valores do Reino)...

A TEOCRACIA DE JESUS

A TEOCRACIA DE JESUS Ele nasceu pobre, viveu na periferia, se encontrou com os doutores da lei aos doze anos de idade, ficou incógnito e veio a ser conhecido depois do milagre de Caná. Quem n´Ele creu cria ser Ele o Messias prometido e esperado, que iria livrar Israel da servidão ao império romano. Ele seria o líder político que levantaria as massas e implantaria o Reino de Deus. Seus discursos e parábolas falavam constantemente do Reino. A súcia estava alvoroçada, achando que a revolta se daria no dia seguinte. Estavam às voltas da comemoração da Páscoa, Ele havia se dirigido a Jerusalém, mandou que buscassem um jumento, e entrou na cidade montado nele. Clamavam “Hosana ao Filho de David! bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas!”. Em seguida expulsou vendilhões do templo e acharam que agora a teocracia seria instalada. Qual nada. Uma semana depois foi preso e crucificado. Como gozação, colocaram na sua cruz “Rei dos Judeus”. Tinha o poder de chamar anjos para que o l...

JESUS E A CORRUPÇÃO

JESUS E A CORRUPÇÃO Algo que havia em abundância quando Jesus viveu em Israel era corrupção. Ela estava por todos os lados. Os coletores de impostos eram judeus e figuras impopulares, pois faziam o serviço de ajudar o Império a subjugar o povo. Vistos como colaboradores dos romanos, eram acusados de serem desonestos e corruptos. Muitos eram ricos porque tinham ganho pessoal com as cobranças que faziam. O quadro era generalizado. No que pese isso, a abordagem jesuânica foi diferente da que os moralistas e pretensamente éticos (fariseus) defendem. Jesus foi à casa de Zaqueu e ceou com ele e escolheu outro coletor para ser um de seus discípulos: Mateus. Se Jesus tinha todo o poder nas mãos e poderia ter acabado com a invasão imperial e a corrupção, por que Jesus teve este comportamento leniente? Isto significa que ele concordava com o que estava acontecendo? Ele apoiava o domínio romano e a corrupção dos coletores? O fato de não tomar uma posição drástica significa apoio? O que se deve ...

“DESAFASTEM” OS TEOCRATAS

“DESAFASTEM” OS TEOCRATAS A teocracia é o governo onde uma divindade é reconhecida como a autoridade governante suprema, dando orientações aos intermediários (sacerdotes) que administram os assuntos do dia-a-dia do governo. Quase sempre há um sumo-sacerdote que encarna o papel de comunicador das orientações divinas e acaba se transformando em ditador religioso. As leis e políticas do governo, supostamente baseadas nos ensinamentos da divindade, são, em função da sacralidade, de obediência irrestrita. Os questionamentos e tentativas de mudança são vistos como atos subversivos, tal como acontece hoje no Irã, onde, quem questiona o uso do véu é sentenciado à morte. Há inúmeros exemplos na história de governos teocráticos. Na antiguidade, os reis eram deuses ou filhos dos deuses. É o caso dos Faraós, dos Césares e dos reis da antiga Mesopotâmia. Não há na história uma teocracia que tenha sido respeitosa com a divergência e que não tenha usado da violência contra o povo. Exemplo bíblico é...